Nascida no interior do Ceará, no Município de
Morada Nova, Keivianne da Silva Lima Reges foi morar em Limoeiro do Norte ainda
bebê. Teve uma infância tranquila até os sete anos, quando seu pai saiu de
casa. Poderia ser mais uma das tantas crianças que não tiveram oportunidades e
iriam engrossar as fileiras do desemprego, de uma vida estritamente doméstica,
sem vislumbrar muitas perspectivas.
Mas para ela foi diferente. Por quê? Não se sabe ao
certo, mas o que se tem certeza é que a educação foi o trunfo que Keivianne
teve para conseguir um futuro diferente.
Para sustento da família, teve que ajudar a mãe, fazendo
e vendendo salgados na vizinhança e bairros próximos da sua casa. Depois foi trabalhar
como babá para ajudar à mãe, que ainda tinha uma filha pequena e não recebia
pensão alimentícia do pai. O salário de Keivianne era a receita principal da
casa.
O relacionamento com a mãe e as irmãs era de união,
resguardando um amor por essa pequena família.
Casou-se aos 17 anos. Outra vez, a vida poderia ter
tomado um rumo mais “normal” para as adolescentes que casam prematuramente.
Poderia ter deixado de estudar, trabalhar e ter filhos nessa idade. Novamente
aconteceu diferente para Keivianne. Ela continuou trabalhando e estudando, pois
tinha o sonho de se formar. Eis aqui outro aspecto marcante da sua trajetória:
ela tinha um sonho, que a afastou, mais uma vez, das estatísticas das meninas
da sua idade que casavam. O casamento entre educação e sonho a direcionou para
outros caminhos.
Os filhos só vieram depois da
formatura. Aos 28 e 30 anos, ela teve a experiência da maternidade, outro
momento marcante em sua vida, mas que foi decidido com maturidade e no momento
apropriado, para que ela pudesse realizar mais um sonho: o de ser mãe.
A convicção do estudo veio de várias
fontes inspiradoras: a mãe, que a incentivou, não permitindo que ela desistisse
de estudar, mesmo estando cansada do trabalho. O esposo, que possuía um curso
técnico, e falava muito sobre sua experiência no meio acadêmico, tendo sido o
seu maior incentivador, financiando cursinhos e vestibulares, e a família para
quem ela trabalhava, em que os patrões eram formados, situação que lhe chamou a
atenção.
A sua percepção de que os estudos
mudavam a vida das pessoas foi decisiva para ela querer essa mudança. Ter um
salário melhor, e consequentemente uma condição financeira mais elevada, foram
fatores que a motivaram a persistir no mundo acadêmico.
Mas a obstinação em alcançar seus
sonhos também trouxe desafios. Como trabalhava na adolescência, não tinha muito
tempo para se dedicar aos estudos, portanto, a base teórica foi prejudicada.
Foram necessários vários cursinhos preparatórios e vestibulares até conseguir
passar. O primeiro ano da graduação também foi muito difícil devido às mudanças
e a distância da família. Após adaptar-se, conseguiu ter ritmo de estudos e a
entrada no mestrado foi algo natural.
Quanto à universidade pública, ela se surpreendeu
positivamente, pois desde que comprovou sua “baixa renda”, logo conseguiu
moradia com água, luz e internet dentro da própria universidade, além de uma
bolsa de incentivo na qual podia custear sua alimentação.
Já no mestrado, teve a oportunidade de ir para a Universidade
Federal do Ceará mediante o recebimento de bolsa, com acesso ao restaurante universitário,
onde fazia suas duas principais refeições a um custo muito baixo.
Sua especialidade é a área de produção de mudas de
espécies frutíferas e o reuso de água na agricultura. Houve forte identificação
com a agronomia pelas inúmeras possibilidades de atuação e pela região que
reside ser um polo produtor.
Entre o mestrado e o doutorado, fez-se mãe, somando
outras jornadas na sua trajetória. Atribui a sua determinação à muita fé e
força de vontade, além da ajuda da família, e em especial do esposo. Elencando
suas prioridades, ela afirma que quase sempre vem primeiro os filhos, e depois
o doutorado, por ser o sustento da família. O marido se encontra desempregado e
a bolsa do doutorado é o que mantido Keivianne na universidade, pois se não
fosse isso, teria que parar de estudar.
Keivianne da Silva Lima Reges é engenheira
agrônoma, formada na Universidade Federal Rural do semiárido UFERSA, campos
Mossoró-RN, fez Mestrado na Universidade Federal do Ceará UFC-CE, e atualmente
é Doutoranda na Universidade Federal Rural do semiárido-UFERSA, campos Mossoró-RN.
E ainda tem muitos sonhos a realizar, inclusive de
inspirar seus filhos a realizar os seus.
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