quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Como realizar sonhos através da educação





Nascida no interior do Ceará, no Município de Morada Nova, Keivianne da Silva Lima Reges foi morar em Limoeiro do Norte ainda bebê. Teve uma infância tranquila até os sete anos, quando seu pai saiu de casa. Poderia ser mais uma das tantas crianças que não tiveram oportunidades e iriam engrossar as fileiras do desemprego, de uma vida estritamente doméstica, sem vislumbrar muitas perspectivas.
Mas para ela foi diferente. Por quê? Não se sabe ao certo, mas o que se tem certeza é que a educação foi o trunfo que Keivianne teve para conseguir um futuro diferente.
Para sustento da família, teve que ajudar a mãe, fazendo e vendendo salgados na vizinhança e bairros próximos da sua casa. Depois foi trabalhar como babá para ajudar à mãe, que ainda tinha uma filha pequena e não recebia pensão alimentícia do pai. O salário de Keivianne era a receita principal da casa.
O relacionamento com a mãe e as irmãs era de união, resguardando um amor por essa pequena família.
Casou-se aos 17 anos. Outra vez, a vida poderia ter tomado um rumo mais “normal” para as adolescentes que casam prematuramente. Poderia ter deixado de estudar, trabalhar e ter filhos nessa idade. Novamente aconteceu diferente para Keivianne. Ela continuou trabalhando e estudando, pois tinha o sonho de se formar. Eis aqui outro aspecto marcante da sua trajetória: ela tinha um sonho, que a afastou, mais uma vez, das estatísticas das meninas da sua idade que casavam. O casamento entre educação e sonho a direcionou para outros caminhos.
         Os filhos só vieram depois da formatura. Aos 28 e 30 anos, ela teve a experiência da maternidade, outro momento marcante em sua vida, mas que foi decidido com maturidade e no momento apropriado, para que ela pudesse realizar mais um sonho: o de ser mãe.
         A convicção do estudo veio de várias fontes inspiradoras: a mãe, que a incentivou, não permitindo que ela desistisse de estudar, mesmo estando cansada do trabalho. O esposo, que possuía um curso técnico, e falava muito sobre sua experiência no meio acadêmico, tendo sido o seu maior incentivador, financiando cursinhos e vestibulares, e a família para quem ela trabalhava, em que os patrões eram formados, situação que lhe chamou a atenção.
         A sua percepção de que os estudos mudavam a vida das pessoas foi decisiva para ela querer essa mudança. Ter um salário melhor, e consequentemente uma condição financeira mais elevada, foram fatores que a motivaram a persistir no mundo acadêmico.
         Mas a obstinação em alcançar seus sonhos também trouxe desafios. Como trabalhava na adolescência, não tinha muito tempo para se dedicar aos estudos, portanto, a base teórica foi prejudicada. Foram necessários vários cursinhos preparatórios e vestibulares até conseguir passar. O primeiro ano da graduação também foi muito difícil devido às mudanças e a distância da família. Após adaptar-se, conseguiu ter ritmo de estudos e a entrada no mestrado foi algo natural.
Quanto à universidade pública, ela se surpreendeu positivamente, pois desde que comprovou sua “baixa renda”, logo conseguiu moradia com água, luz e internet dentro da própria universidade, além de uma bolsa de incentivo na qual podia custear sua alimentação.
Já no mestrado, teve a oportunidade de ir para a Universidade Federal do Ceará mediante o recebimento de bolsa, com acesso ao restaurante universitário, onde fazia suas duas principais refeições a um custo muito baixo.
Sua especialidade é a área de produção de mudas de espécies frutíferas e o reuso de água na agricultura. Houve forte identificação com a agronomia pelas inúmeras possibilidades de atuação e pela região que reside ser um polo produtor.
Entre o mestrado e o doutorado, fez-se mãe, somando outras jornadas na sua trajetória. Atribui a sua determinação à muita fé e força de vontade, além da ajuda da família, e em especial do esposo. Elencando suas prioridades, ela afirma que quase sempre vem primeiro os filhos, e depois o doutorado, por ser o sustento da família. O marido se encontra desempregado e a bolsa do doutorado é o que mantido Keivianne na universidade, pois se não fosse isso, teria que parar de estudar.
Keivianne da Silva Lima Reges é engenheira agrônoma, formada na Universidade Federal Rural do semiárido UFERSA, campos Mossoró-RN, fez Mestrado na Universidade Federal do Ceará UFC-CE, e atualmente é Doutoranda na Universidade Federal Rural do semiárido-UFERSA, campos Mossoró-RN.
E ainda tem muitos sonhos a realizar, inclusive de inspirar seus filhos a realizar os seus.

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