domingo, 1 de setembro de 2019

Artigo de Opinião - Comunicação Positiva - uma nova perspectiva de jornalismo



INTRODUÇÃO


            Hodiernamente o jornalismo tem sido um mecanismo de divulgação recorrente de notícias desastrosas, impactantes do ponto de vista negativo, por vezes grotescas, destinado a um público ávido por manchetes sensacionalistas, que expõem a desgraça humana, mostram o que o indivíduo tem de pior, gerando nos expectadores uma sensação de impotência, desânimo e desesperança, mesmo o público “fiel” desse braço do jornalismo, é influenciado negativamente por essas reportagens que enfocam, em demasia, fatos cruéis e torpes.
            Não se pode, obviamente, ocultar os fatos e deixar de dar a informação, afinal, isso é imprescindível na atividade do profissional do Jornalismo, mas o que se quer abordar com esse trabalho e até que ponto se informa ou deforma o acontecimento? Quais os objetivos reais de se massificar uma matéria que deixa claro a crueldade humana? E por que não, ao invés de se enveredar por esse tipo de abordagem, não se difunde exaustivamente notícias positivas, que demonstrem o melhor da raça humana?
Este é o objetivo desse trabalho, mostrar vertentes de um outro tipo de jornalismo, mais humanizado, priorizando notícias verdadeiramente reais, mas de impacto positivo no espectador, acreditando na máxima que preceitua “o que se foca, expande”.

  
O papel do jornalismo vai muito além de só informar, de contar como as coisas aconteceram, na verdade, tudo inicia muito antes, começa da escolha da pauta do que e principalmente de como será divulgado. No livro “O que é Jornalismo” de Cláudio Rossi, ressalta que “Há, portanto, um cone de sombra sobre toda uma área de atividade, diretamente ligada ao interesse da comunidade, que raramente ganha espaço na pauta, e por extensão, no próprio jornal, revista ou TV.”
É crucial que as notícias dentro de uma comunidade, sejam de cunho educacional, cultural, econômico, artístico ou social também venham a ser objeto de matérias, pois enfocam iniciativas sociais louváveis e que representam o que faz a diferença na vida daquelas pessoas, coisas bacanas de se ver e de se contar. Por que isso não é notícia? Claro que é!
Por outro lado, de que adianta dizermos e expormos todos os problemas da política, da corrupção, da operação lavajato, se não apontarmos soluções? Se não mostrarmos que antes sempre houve desvio de verba pública e agora, pela existência de uma sociedade muito mais exigente, tudo se tornou questionável.
Temos que mostrar que diante da globalização e do acesso à informação, os cidadãos passaram a ser mais participativos e opinarem mais. Se não fizermos uma notícia que dê perspectivas às pessoas, de que vale noticiar? Ver o circo pegar fogo?Já tem gente demais fazendo isso. Devemos sair da sombra, citada por Rossi, para exibir a informação politicamente correta e mais importante do que isso, apontando saídas e soluções, porque senão o jornalismo se torna um divulgador de misérias e um aniquilidor da esperança humana.
Acho que a hora é de escolher melhor as notícias que serão massificadas. Quantas pessoas estão engajadas no Brasil e no mundo inteiro tentando, e muitas vezes conseguindo, buscar soluções viáveis, sustentáveis. Vamos atrás dessas pessoas e dessas ações. Foquemos com lentes de aumento nos acontecimentos que nutram na sociedade a sensação de quem planta o bem colhe o bem, que o crime não compensa, de que nem tudo está perdido. Inúmeras ações de voluntariado estão por aí, a espera de serem vistas, de serem copiadas, de virarem manchetes, mas teimamos em achar que só notícias infelizes terão “ibope”.
Desafio a todos que forem escrever ou mesmo falar em algum canal de comunicação, desenvolver o raciocínio sobre a perspectiva de mostrar o que deu certo, qual lição, ou quem fez a coisa certa nessa situação, sem olvidar de narrar os fatos reais.
Neste sentido, cito o jornalista Ricardo Corrêa e editor-adjunto de política do Jornal Hoje em Dia de Belo Horizonte: “Fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que seja publicado.” Não quero aqui contrapor a tese expressa na oração que tão bem define a chave de um jornalismo atuante e combativo. Nem defender a adoção de um jornalismo chapa branca, que seria ainda mais pernicioso do que o “jornalismo da depressão” que é vastamente praticado hoje no país. Mas é diferente propor um jornalismo que valorize as boas práticas na sociedade, aquelas que são capazes de transformá-la, indo além da pintura de um cenário de erro absoluto. Tenho realmente hoje a tendência a achar que e preciso alterar a lógica presente no jornalismo contemporâneo brasileiro, que é algo que me preocupa, sobretudo nas editorias de Política do jornalismo impresso, sob a pena de contribuir com a visão corrente de que tudo está caminhando só para pior, que não há mesmo saída e que estamos todos condenados a viver em uma sociedade injusta e cada vez mais distante das que queremos. Volto à frase que abre o texto para lembrar que se “fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer se seja publicado”, também o é apresentar as boas práticas, os bons exemplos, que mudam a sociedade e que, certamente, os que defendem a inércia social não querem que sejam veiculados.” (Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/_ed739_um_jornalismo_positivo_que_mude_a_sociedade/)
Comungo do pensamento do jornalista retro citado, sobretudo quando ele reforça a necessidade de apresentar as boas práticas e os bons exemplos, pois através desta comunicação, repassaremos a ideia de que a sociedade pode e deve seguir um caminho pró ativo e de resolutividade dos seus impasses e problemas e não apenas ser mero expectador das agruras dos acontecimentos.
Num contexto mundial em que a velocidade da comunicação é instantânea, maior é a responsabilidade dos tratadores da notícia, do que repassam, pois a consequência do que é informado é imediata. Por exemplo, na veiculação do fato do estupro coletivo, foi imensamente divulgado o ato em si, a quantidade de homens a participar do crime, a fragilidade da vítima. O que eu sugiro é que seja focada a atitude de mulheres que se mobilizaram para realizar a denúncia, que esta denúncia culminou com a instauração de inquérito e prisão dos envolvidos, que um movimento de mulheres prestou solidariedade à vítima, fazendo manifestações públicas, entre outras perspectivas, e ressalte-se, não deixando de informar o que aconteceu, mas sob uma ótica de mostrar o que se pode fazer para resolver a situação e o que houve de positivo a partir do fato lamentável.
Também neste sentido é a posição da portuguesa Catarina Rebelo de Sousa, jornalista de vários meios de comunicação social portugueses: 24 Horas, TV 7 Dias, TV Dois, TV TOP, Conheça Portugal - Turismo e Negócios e estudante da pós-graduação em jornalismo ISCTE/MediaCapital: “Ora, as nossas vidas já são tão duras e tristes que é urgente o jornalismo levar a alegria, o bem-estar às pessoas. Elas exigem-no. Precisam disso para não sufocar. Só assim as teremos como aliadas. Os nossos telejornais vão ao encontro da concorrência do que eles fizeram ou mostraram que nós não mostramos e, por isso, deixamos de fazer. Como consequência perdemos a audiência, o share, os números do dia. Não! Nada disto! O jornalismo está a perder a sua essência. Está a materializar-se em números que se traduzem em pessoas. E isto é errado. Quando pensamos no jornalismo pensamos em pessoas, nas suas vidas, nas suas histórias. Isso é Jornalismo. As pessoas e o mundo têm muitas histórias por e para contar. Coisas que nos fazem sentir felizes e realizados. As pessoas estão a pedir isto agora e mais que nunca. E nós dar-lhe-emos isso mesmo. Trabalhamos para as pessoas como seres humanos e indivíduos únicos. Não trabalhamos nem para máquinas nem para autómatos programados. Estamos onde as pessoas estão. Esqueçam os números. Foquem-se no essencial. O resto virá por acréscimo, acreditem.”
A lucidez e ao mesmo tempo otimismo da profissional impressionam, ela chama a atenção para o fato de que devemos esquecer os números e lembrarmos do essencial, das boas histórias, do que é genuinamente humano e não desumano.
Outra ponderação que se pode fazer é acerca de existir um acordo tácito na imprensa sobre não noticiar os suicídios ocorridos. Percebe-se que não se explora o tema, que é minimizado. Não é à toa que isso ocorre. Essa prática vem corroborar a tese de que ao publicarmos, sobretudo dependendo da forma de abordagem, há um contágio social, uma replicação do fato.
A jornalista Carolina Pompeu Grando, numa análise muito lúcida desse comportamento, aduz: “Existe uma convenção profissional extra-oficial, uma espécie de acordo entre cavalheiros, que determina: suicídios não serão noticiados pela grande imprensa. Ninguém sabe exatamente quando foi que este acordo foi selado, nem precisamente por que. O fato é que ele existe, mas aos poucos e discretamente tem sido descumprido: notícias sobre suicídios são publicadas, sim. Às vezes de modo sensacionalista, outras de modo superficial, e poucas de maneira aprofundada. Ainda assim, linhas editoriais e profissionais de imprensa sustentam que nas páginas de seus jornais não há espaço para suicídios. Por quê?
            Ao meu ver, essa omissão é justamente para não incentivar novos casos, mas também acho que essa não é solução, afinal o número de homicídios tem aumentado, além de ocultar situações reais que o público deveria saber. Reputo que a forma de se dar a notícia é que fará toda a diferença, sobretudo a sociedade poderia questionar por que os casos de suicídio tem aumentado. Especialistas poderiam dar suas opiniões e se traria à baila um assunto muito relevante e de ordem pública, pois se refere à saúde e sanidade humanos

O QUE PODERÍAMOS ENTÃO NOTICIAR?

Sugiro que fosse feito permanentemente, em todos os jornais, TVs e revistas, uma pauta dedicada a ações de voluntariado, para que além de dar visibilidade a estas ações, inspirasse outras pessoas a prestar algum serviço social. Poderiam ser citados casos práticos de pessoas que foram beneficiadas pelo auxílio prestado pelos voluntários e como suas vidas foram impactadas.
Por que não replicamos exaustivamente o caso dos pais que adotaram 6 crianças, filhos de uma amiga do casal que morreu de câncer? O caso do lixeiro que encontrou um grande valor em dinheiro e devolveu. Citar a freira que mantém uma casa para crianças com câncer e que mobiliza uma cidade inteira para ajudar. As ações de voluntariado que auxiliam crianças sem lar, moradores de rua, animais abandonados.
Outro tópico a ser abordado na comunicação positiva, são as ações sustentáveis realizadas por cidadãos individualmente, bem como por empresas, instituições e governos, sobretudo focados na preservação do meio-ambiente, divulgando soluções da melhor utilização dos recursos naturais.
Poderia ser falado também de como o esporte rotineiramente transformou e transforma a vida das pessoas, gerando oportunidades de mudanças. Por que não ousar e imaginar a possibilidade de ao final de cada matéria publicada, fosse feita uma abordagem de solução, dos efeitos positivos do que houve, de quais ações podem ser implementadas a partir daquele acontecimento, de abrir espaço para os espectadores, no caso do jornalismo de web, para sugerir boas práticas acerca daquele tema.
Comparo as notícias dados pela imprensa às notícias particulares que nos são passadas. Muitas vezes o que nos é dito de forma individual vai depender de quem diz, como diz e quando diz. É como quando assistimos aula com um professor excepcional, que nos motiva, que ilustra suas aulas, que dá exemplos práticos, vivências suas, que escuta as perguntas e valida as respostas, que tornam atraentes suas aulas pois tem amor pelo que faz, que envolve toda a sala com sua didática e postura. Imagine que outro professor dá a mesma cadeira, reforço, a mesma disciplina, mas com outra “vibe”, entra na sala desmotivado, taciturno, cambaleante no assunto, detesta ser interrompido, não gosta de responder perguntas e é sarcástico com as dúvidas dos alunos, a ponto destes se envergonharem de perguntarem e a aula se tornar um monólogo. Quem já não passou por esses dois professores?? Na verdade, eu estava escrevendo e lembrando deles...Acho que todos já experimentamos essas situações.
Com a notícia não é diferente, podemos fazer dela um verdadeiro pandemônio ou trazê-la para transformar realidades. Isso se falarmos das notícias pesadas, mas quando se tratam de notícias verdadeiramente inspiradoras, podemos fazer muito mais, podemos torná-las comuns, inseri-las no contexto social, massificar as ações do José e da Maria, que adotaram 6 crianças que perderam a mãe na grande notícia do ano.
Neste sentido, já existem iniciativas concretas, como por exemplo, o Movimento Independente pelas Notícias Inspiradoras, que tem uma página no Facebook, tendo como objetivo divulgar notícias positivas e que mostrem um pouco do BOM que se faz no País. Uma rede social que vai permitir ajudar os seus seguidores! Assim como o blog da jornalista que citei anteriormente, Catarina Rebelo de Sousa, intitulado “Jornalismo Positivo”. O que deixa claro que se trata de uma vertente que está se concretizando no mundo da comunicação.
O papel do jornalista tem que fazer sentido, e um sentido verdadeiramente social. No livro Comunicação – Dos Fundamentos à Internet, os autores Francisco Antonio Doria e Pedro Doria, dissertam que “Dizer é fazer visível o que ficava na sombra. Iluminar. Iluminar com a fala.” Num outro trecho, acrescentam: “Aqui surge, inteiro o problema da comunicação. Nasce no problema do sentido das coisas e do sentido das palavras. Mas nele não se isola e se limita. Vai além. Comunicação envolve quem fala e quem escuta. Diz do sentido, das coisas, dos textos urdidos em palavras, e do ambiente – contexto – no qual desejam alojar-se os sentidos produzidos. Onde nasce o sentido: onde está quem fala, escreve, desenha, pinta, faz imagem e palavra. Onde se firma o sentido: no contexto, na cultura.”
Os autores foram muito felizes quando usaram a expressão “iluminar”, pois essa função da palavra, do comentário, da comunicação é essencial para formarmos novos valores nessa sociedade tão massacrada por horrores, violência e apologia à desgraça humana.

CONCLUSÃO

O jornalismo tem papel preponderante no alavancar de mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Noticiar fatos e acontecimentos através de uma comunicação resolutiva, positiva, no qual se apontam caminhos, tem sido uma solução viável para o contexto global. Não ser refém de uma cultura de massa, “escolhendo” matérias pré-definidas, não pode guiar a escolha das pautas de redação, há a necessidade de haver independência do profissional, liberdade para que ele, em contato com os fatos verdadeiramente relevantes para a sociedade, sejam levados à opinião pública.
Tratar a notícia sob um viés de sustentabilidade, gerando na sociedade a esperança de se encontrar soluções para todos os impasses, por mais difíceis que sejam, focar nas ações positivas, que ressaltam atitudes que conduziram a um bom desempenho individual, social, comunitário, institucional ou governamental.
Apropriar-se do sentimento de que temos sempre algo bom para informar ou tirar o bom do que foi ruim, sem em momento algum, esconder os acontecimentos, ocultar os fatos, que muitas vezes são sim estarrecedores, mas deixar claro que não são um fim em si mesmos, que a história não termina aí. Ao adotarmos o conceito da teoria quântica de “onde se foca, expande”, teremos uma perspectiva jornalística que viabiliza a vida em sociedade, prestigia as boas ações e auxilia na mudança de valores sociais. 

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