domingo, 18 de outubro de 2020

Maria: Alegria e Adoração



Texto: Jamille Ipiranga
Ilustração: Mirella Fernandes

Amália entrou no consultório do obstetra carregando no ventre seu primeiro filho ou filha. A gestação, recém descoberta, já entrava no terceiro mês. Era um misto de alegria e receio.

- Dr. Malan, aqui estão os exames que o senhor pediu.

O médico leu os resultados, ficou um pouco em silêncio, e pausadamente disse à Amália que ela deu positivo para toxoplasmose. Seguiu com a explicação.

- Antes de mais nada, quero informar que tem tratamento, mas preciso alertar para alguns riscos. O bebê pode ter problemas de visão, de desenvolvimento mental e há possiblidade de aborto.

Apesar de toda habilidade do médico, as respostas desestabilizaram Amália. Saiu desalentada. Perder um filho que ainda nem tinha nascido. Cegueira ou debilidade mental, eram as opções mais vantajosas. Recorreu à Mãe das mães.

- Nossa Senhora, afasta esse cálice do meu rebento. Rogo que meu filho nasça. Cuidarei dele de maneira abundante. Coloca em meu caminho outro filho e que com ele eu tenha uma missão. Até essa criança completar 15 anos, serei sua guardiã. Eu creio na tua Graça!

Passaram-se seis meses. Amália fez o tratamento prescrito pelo médico, realizou exames e perseverou na oração a Nossa Senhora, sua guia e protetora. Sentia-se amparada pela Virgem Maria de maneira que só a fé explicava.

Antes do parto, havia dois nomes que Amália titubeava em escolher: Letícia ou Larissa. O primeiro nome significava alegria, e o segundo, adorável. Era assim que ela sentia sua filha: uma adorável alegria! Não sabia por qual decidir, mas uma coisa era certa: parto cesárea! Ela lá queria sentir dor. A data não poderia ter sido outra, dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida.

Letícia nasceu dia 6 de outubro, de parto normal. Foi tudo como Amália não havia planejado, mas Nossa Senhora havia preparado. O teste do pezinho foi feito e Maria Santíssima foi louvada. A criança nasceu completamente saudável. A felicidade de Amália era indizível. Havia alcançado duas graças: era mãe pela primeira vez e sua filha era sã. Mãe e filha eram um só corpo, um só coração. Letícia veio ao mundo trazendo amor e a alegria que seu nome anunciava.

O vínculo com Nossa Senhora ficou mais forte e Amália pediu para que a Santa lhes mostrasse o outro filho que ela cuidaria. Ela saberia quando o encontrasse.

Confidenciou à sogra Rute sua promessa. Ambas foram fazer uma visita a uma criança que acabara de nascer. Chegando na casa humilde, foram recebidas por dona Maria, a avó da criança adorável, que se chamava Larissa. Amália exultou de alegria e deu graças por ter recebido um sinal tão preciso da filha que Nossa Senhora lhe enviou.

Amália amou Larissa desde a primeira vez que a viu, sentiu-se maternalmente ligada a ela. Foi escolhida para ser sua madrinha. Letícia e Larissa estudaram na mesma escola, faziam os mesmos cursos e dividiam as mesmas amizades. O vínculo entre elas, abençoado por Nossa Senhora, uniu Amália, Letícia e Larissa para além de uma promessa. Tratava-se de algo muito maior. Tratava-se de amor, fé e graça.

Letícia e Larissa hoje têm 22 anos, são grandes amigas, estudam Direito e são jovens especiais com um coração generoso. Amália as consagrou à Nossa Senhora e o vínculo entre as três as une de maneira que só um amor de Mãe alcança a compreensão. Elas contam com Maria.

domingo, 3 de maio de 2020

Os que já se foram





Texto e imagem: Jamille Ipiranga

Mais uma vez eu tive um sonho, que insiste em me dizer para eu escrever. Eu teimo muito.
Nele, no sonho, era dito, não sei por quem, que devemos deixar nossos falecidos ficar perto de nós. Não para nos entristecermos pela dor da ausência, da falta da presença física. Não é isso, apesar de acontecer frequentemente...
A ideia é lembrarmos dos que já se foram a partir do bem que fizeram, das atitudes realizadas. No meu caso particular, é trazer para o meu cotidiano minha mãe. Que fez tanto! Ela cozinhava, costurava, bordava, escrevia, rezava, se importava, ligava, cobrava, e como (rs), ela realizava e dava risada. Contava piada, algumas cabeludas. Nesse caso, ela não se importava. Mamãe tinha intensidade na sua humanidade. Não passava despercebida nem por gente, nem pelos bichos, nem pelas plantas. De tudo sabia, pois lia, e ria. Esse final de semana, em tempos de quarentena, fiz algumas das suas receitas "clássicas", como diria meu irmão Sávio, e foi como senti-la ao meu lado.
Voltando para o sonho, a mensagem é essa: deixar viver os "mortos". Contar suas histórias, manter o espaço deles em nossa vida. Nada de evitar falar. Quem sabe reunir a família para contar os causos de alguém amado, que só não está presente fisicamente. Afinal, se acreditamos em ressurreição, essas pessoas vivem!Pois bem, esse era o desejo do sonho, ou meu mesmo. Deixar viver e incluir na nossa rotina mais rotineira, o amor e a vida das pessoas que já se foram desse plano, mas se fazem presentes pela importância e pelo legado que deixaram.
A propósito, essa semana mamãe completaria 78 anos de vida. Deixou muita história boa que precisa ser recontada.