1. Conte um pouco sobre sua história
de vida.
Nasci na Cidade de Morada Nova e ainda bebê cheguei a Limoeiro do Norte, tive uma infância tranquila em família até os 7 anos, quando meu pai saiu de casa. A partir de então tive que ajudar minha mãe, trabalhei como babá para ajudar das despesas da casa, até me casar aos 17 anos. Depois de casada trabalhei, mas também pude estudar e então realizar um sonho de me formar.
Nasci na Cidade de Morada Nova e ainda bebê cheguei a Limoeiro do Norte, tive uma infância tranquila em família até os 7 anos, quando meu pai saiu de casa. A partir de então tive que ajudar minha mãe, trabalhei como babá para ajudar das despesas da casa, até me casar aos 17 anos. Depois de casada trabalhei, mas também pude estudar e então realizar um sonho de me formar.
Hoje sou
engenheira agrônoma com especialização, mestrado e atualmente curso doutorado.
2. Com qual idade você começou a
estudar e a trabalhar?
Estudei
desde os 4,5 anos e nunca parei de estudar...
Quando
tinha 10 anos ajudava minha mãe, que aprendeu um oficio com sua vizinha (fazer
salgados, coxinha em especial). Eu vendia esses salgados na vizinhança e nos
bairros próximos. Aos 13 comecei a trabalhar como babá até os 17 anos.
3. Que tipo de trabalho você
desempenhou? Por que começou a trabalhar tão cedo?
Trabalhei
vendendo salgados, como babá, vendedora em loja.
Tive que
começar cedo para ajudar minha mãe e irmã, pois não recebíamos pensão do meu
pai e minha mãe não tinha profissão, além de ter crianças em casa, o que a
impossibilitava de trabalhar fora.
4. Como era o relacionamento com a
sua família?
Eu, minha
mãe e minhas irmãs sempre fomos muito unidas, e com o restante da família
conservamos um relacionamento discreto, sem muita convivência.
5. Quem era o responsável financeiro
da sua casa? De que forma você contribuía?
Minha mãe
fazia e vendia os salgados, que gerava uma renda muito baixa e depois que
comecei a trabalhar de babá, a principal renda era a do meu salário.
6. Qual idade você casou e teve
filhos? Fale um pouco dessa experiência.
Casei aos
17 anos e tive minha filha aos 28, e logo depois, aos 30, meu filho. Quando casei
investi nos meus estudos e por isso resolvemos esperar terminar a graduação
para então termos um filho. Como o mestrado veio muito rápido, inclusive antes
de concluir a graduação, esperamos um pouco mais. O primeiro filho foi
programado e veio no momento de uma pausa dos estudos. O segundo filho não foi
planejado, com isso tive de esperar um pouco mais para seguir com os objetivos
de seguir na pós-graduação.
7. Que incentivos você teve para
estudar? Qual sua maior inspiração para os estudos?
A família
para quem eu trabalhava de babá era toda formada, e isso me chamou muito a
atenção. Minha mãe muito me incentivou, nunca permitiu que eu desistisse de
estudar, mesmo estando cansada do trabalho. Meu namorado na época possuía um
curso técnico e falava muito sobre sua experiência no meio acadêmico. Foi ele quem mais me incentivou a estudar, falava muito da importância de uma
faculdade, financiava cursinhos e vestibulares.
8. Por que estudar foi uma
prioridade na sua vida?
Porque eu
via que as pessoas que tinham estudos mudavam suas vidas, e era essa mudança
que eu queria para minha vida. Sabia que através de uma formação era possível possuir
um melhor salário e uma melhor condição financeira para mim e minha família.
9. Onde você fez o ensino fundamental,
médio, graduação, mestrado? E onde está cursando o Doutorado?
Ensino
fundamental até a 7 série em escola pública: EEFM Arsênio Ferreira maia.
O último
ano do ensino fundamental foi em uma escola particular por motivos de trabalho,
financiado pelos empregadores.
Ensino
médio na escola pública: EEFM Arsênio Ferreira maia.
Graduação:
UFERSA- Universidade Federal Rural do semiárido, campos Mossoró-RN.
Mestrado:
UFC- Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE.
Doutoranda
na UFERSA- Universidade Federal Rural do semiárido, campos Mossoró-RN.
10. Qual área você está se
especializando? Em que momento você se identificou com a Agronomia?
Minha
especialidade hoje é a área de produção de mudas de espécies frutíferas e o
reuso de água na agricultura. Identifiquei-me com a agronomia pelas inúmeras
possibilidades de atuação (muito abrangente) e pela região em que moramos ser
um polo produtor, imaginei muitas possibilidades de trabalho.
11. Como foi o processo de deixar de
ser babá e ser atualmente estudante de doutorado?
Foi um
processo lento, pois como trabalhava na adolescência, não tinha muito tempo
para estudar e a base para os estudos foi prejudicada. Foram necessários vários
cursinhos preparatórios e vários vestibulares até conseguir passar. O primeiro
ano da graduação também foi muito difícil devido às mudanças e à distância da
família. Depois de adaptada e pegar o ritmo dos estudos, foi tranquila e natural
a entrada no mestrado. Depois da maternidade ficou muito complicado, mas
cheguei ao doutorado.
12. Conte um pouco da sua experiência
em fazer a graduação, o mestrado, e atualmente o Doutorado, numa universidade
pública. Quais as maiores dificuldades e as maiores vantagens?
Posso
dizer que a universidade pública muito me surpreendeu, desde a graduação quando
cheguei na UFERSA e comprovei minha “baixa renda” ou a minha necessidade, logo
consegui moradia com água, luz e internet dentro da própria universidade, além
de uma bolsa de incentivo, na qual eu custeava minha alimentação, ou seja, tive
muito suporte oferecido pela universidade pública. No mestrado tive
oportunidade de ir para UFC com bolsa, e mesmo sendo estudante de pós-graduação
tive acesso ao restaurante universitário, onde fazia as duas principais
refeições a um custo muito baixo. Atualmente
tenho bolsa de doutorado e dela retiro todas as minhas despesas. A maior
dificuldade era a distância da família.
13. Algum outro parente seu chegou a
se formar? Quem?
Sim, uns
2 ou 3 primos com graduações feitas em universidades particulares. Apenas eu
em universidade pública.
14. Como conciliar vida pessoal,
casamento, filhos e Doutorado?
Com muita
fé e força de vontade, com ajuda da família, em especial meu marido, que me ajuda em tudo. Quase sempre vem primeiro os filhos, depois o doutorado (por ser
nosso sustento).
15. Diante dos cortes do Governo
Federal na Educação, quais os impactos para você?
O meu
curso de doutorado é de um programa que possui o conceito 6 (o único do
Nordeste) e por isso não houve cortes nas bolsas como os demais programas de
pós-graduação da UFERSA. Porém com os cortes e os contingenciamentos, a previsão
é de que a universidade tenha verba para pagar seus fornecedores (água, energia
e terceirizados) até o mês de agosto, com isso não haverá material nem
laboratórios o que prejudica as análises previstas para a conclusão da minha
tese. Com isso a UFERSA fecha as portas e o provável é que, subtraiam minha
bolsa, e sem dados suficientes para publicação não concluo o doutorado. Dependo
desse título para melhor me colocar nos concursos, pois dos 3 concursos já
realizados para o cargo de professor substituto não consegui o êxito por não
possuir o título, ficando em colocação inferior.
16. Qual a importância da bolsa do
Doutorado atualmente? Sem ela, o que muda na sua vida?
Tudo
muda. A bolsa de pós-graduação exige dedicação exclusiva, ou seja, não posso
exercer nenhuma outra atividade remunerada. O único sustento da minha família
hoje é essa bolsa, meu marido está desempregado há quase 3 anos. Sem bolsa e sem
o título fica muito complicado....
17. Se você pudesse mandar um recado
direto para o Ministro da Educação, qual seria?
Pare com
as chantagens!!!! Tudo isso (dito pelo ministro em reuniões com reitores) para conseguir
apoio para aprovação da reforma da previdência. A educação não pode parar....A
universidade pública de qualidade já é um direito de todos! Vá fazer seu
trabalho, invista na educação que é a única forma de transformar a vida das
pessoas.
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