domingo, 1 de setembro de 2019

Entrevista - Como realizar sonhos através da educação com Keivianne Lima

PERGUNTAS:

1.  Conte um pouco sobre sua história de vida.
Nasci na Cidade de Morada Nova e ainda bebê cheguei a Limoeiro do Norte, tive uma infância tranquila em família até os 7 anos, quando meu pai saiu de casa. A partir de então tive que ajudar minha mãe, trabalhei como babá para ajudar das despesas da casa, até me casar aos 17 anos. Depois de casada trabalhei, mas também pude estudar e então realizar um sonho de me formar.
Hoje sou engenheira agrônoma com especialização, mestrado e atualmente curso doutorado.

2.  Com qual idade você começou a estudar e a trabalhar?
Estudei desde os 4,5 anos e nunca parei de estudar...
Quando tinha 10 anos ajudava minha mãe, que aprendeu um oficio com sua vizinha (fazer salgados, coxinha em especial). Eu vendia esses salgados na vizinhança e nos bairros próximos. Aos 13 comecei a trabalhar como babá até os 17 anos.

3. Que tipo de trabalho você desempenhou? Por que começou a trabalhar tão cedo?
Trabalhei vendendo salgados, como babá, vendedora em loja.
Tive que começar cedo para ajudar minha mãe e irmã, pois não recebíamos pensão do meu pai e minha mãe não tinha profissão, além de ter crianças em casa, o que a impossibilitava de trabalhar fora.

4. Como era o relacionamento com a sua família?
Eu, minha mãe e minhas irmãs sempre fomos muito unidas, e com o restante da família conservamos um relacionamento discreto, sem muita convivência.

5. Quem era o responsável financeiro da sua casa? De que forma você contribuía?
Minha mãe fazia e vendia os salgados, que gerava uma renda muito baixa e depois que comecei a trabalhar de babá, a principal renda era a do meu salário.

6. Qual idade você casou e teve filhos? Fale um pouco dessa experiência.
Casei aos 17 anos e tive minha filha aos 28, e logo depois, aos 30, meu filho. Quando casei investi nos meus estudos e por isso resolvemos esperar terminar a graduação para então termos um filho. Como o mestrado veio muito rápido, inclusive antes de concluir a graduação, esperamos um pouco mais. O primeiro filho foi programado e veio no momento de uma pausa dos estudos. O segundo filho não foi planejado, com isso tive de esperar um pouco mais para seguir com os objetivos de seguir na pós-graduação.

7. Que incentivos você teve para estudar? Qual sua maior inspiração para os estudos?
A família para quem eu trabalhava de babá era toda formada, e isso me chamou muito a atenção. Minha mãe muito me incentivou, nunca permitiu que eu desistisse de estudar, mesmo estando cansada do trabalho. Meu namorado na época possuía um curso técnico e falava muito sobre sua experiência no meio acadêmico. Foi ele quem mais me incentivou a estudar, falava muito da importância de uma faculdade, financiava cursinhos e vestibulares.

8. Por que estudar foi uma prioridade na sua vida?
Porque eu via que as pessoas que tinham estudos mudavam suas vidas, e era essa mudança que eu queria para minha vida. Sabia que através de uma formação era possível possuir um melhor salário e uma melhor condição financeira para mim e minha família.

9. Onde você fez o ensino fundamental, médio, graduação, mestrado? E onde está cursando o Doutorado?
Ensino fundamental até a 7 série em escola pública: EEFM Arsênio Ferreira maia.
O último ano do ensino fundamental foi em uma escola particular por motivos de trabalho, financiado pelos empregadores.
Ensino médio na escola pública: EEFM Arsênio Ferreira maia.
Graduação: UFERSA- Universidade Federal Rural do semiárido, campos Mossoró-RN.
Mestrado: UFC- Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE.
Doutoranda na UFERSA- Universidade Federal Rural do semiárido, campos Mossoró-RN.

10. Qual área você está se especializando? Em que momento você se identificou com a Agronomia?
Minha especialidade hoje é a área de produção de mudas de espécies frutíferas e o reuso de água na agricultura. Identifiquei-me com a agronomia pelas inúmeras possibilidades de atuação (muito abrangente) e pela região em que moramos ser um polo produtor, imaginei muitas possibilidades de trabalho.

11. Como foi o processo de deixar de ser babá e ser atualmente estudante de doutorado?
Foi um processo lento, pois como trabalhava na adolescência, não tinha muito tempo para estudar e a base para os estudos foi prejudicada. Foram necessários vários cursinhos preparatórios e vários vestibulares até conseguir passar. O primeiro ano da graduação também foi muito difícil devido às mudanças e à distância da família. Depois de adaptada e pegar o ritmo dos estudos, foi tranquila e natural a entrada no mestrado. Depois da maternidade ficou muito complicado, mas cheguei ao doutorado.

12. Conte um pouco da sua experiência em fazer a graduação, o mestrado, e atualmente o Doutorado, numa universidade pública. Quais as maiores dificuldades e as maiores vantagens?
Posso dizer que a universidade pública muito me surpreendeu, desde a graduação quando cheguei na UFERSA e comprovei minha “baixa renda” ou a minha necessidade, logo consegui moradia com água, luz e internet dentro da própria universidade, além de uma bolsa de incentivo, na qual eu custeava minha alimentação, ou seja, tive muito suporte oferecido pela universidade pública. No mestrado tive oportunidade de ir para UFC com bolsa, e mesmo sendo estudante de pós-graduação tive acesso ao restaurante universitário, onde fazia as duas principais refeições a um custo muito baixo. Atualmente tenho bolsa de doutorado e dela retiro todas as minhas despesas. A maior dificuldade era a distância da família.

13. Algum outro parente seu chegou a se formar? Quem?
Sim, uns 2 ou 3 primos com graduações feitas em universidades particulares. Apenas eu em universidade pública.

14. Como conciliar vida pessoal, casamento, filhos e Doutorado?
Com muita fé e força de vontade, com ajuda da família, em especial meu marido, que me ajuda em tudo. Quase sempre vem primeiro os filhos, depois o doutorado (por ser nosso sustento).

15. Diante dos cortes do Governo Federal na Educação, quais os impactos para você?
O meu curso de doutorado é de um programa que possui o conceito 6 (o único do Nordeste) e por isso não houve cortes nas bolsas como os demais programas de pós-graduação da UFERSA. Porém com os cortes e os contingenciamentos, a previsão é de que a universidade tenha verba para pagar seus fornecedores (água, energia e terceirizados) até o mês de agosto, com isso não haverá material nem laboratórios o que prejudica as análises previstas para a conclusão da minha tese. Com isso a UFERSA fecha as portas e o provável é que, subtraiam minha bolsa, e sem dados suficientes para publicação não concluo o doutorado. Dependo desse título para melhor me colocar nos concursos, pois dos 3 concursos já realizados para o cargo de professor substituto não consegui o êxito por não possuir o título, ficando em colocação inferior.

16. Qual a importância da bolsa do Doutorado atualmente? Sem ela, o que muda na sua vida?
Tudo muda. A bolsa de pós-graduação exige dedicação exclusiva, ou seja, não posso exercer nenhuma outra atividade remunerada. O único sustento da minha família hoje é essa bolsa, meu marido está desempregado há quase 3 anos. Sem bolsa e sem o título fica muito complicado....

17. Se você pudesse mandar um recado direto para o Ministro da Educação, qual seria?
Pare com as chantagens!!!! Tudo isso (dito pelo ministro em reuniões com reitores) para conseguir apoio para aprovação da reforma da previdência. A educação não pode parar....A universidade pública de qualidade já é um direito de todos! Vá fazer seu trabalho, invista na educação que é a única forma de transformar a vida das pessoas.

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