Fonte:
Matéria veiculada no Diário do Nordeste dia 30/10/2019
Nomofobia: uso abusivo de celular gera novas doenças, como o "Efeito Google"
O QUE É
NOMOFOBIA
Todas esses
sintomas acima se referem a novos diagnósticos clínicos de uso abusivo de
smartphones. A dependência tem vários níveis: vai da falta de
educação digital, que inclui a dificuldade de equilíbrio sobre o
tempo e locais de uso, até o nível patológico. Segundo a psicóloga
Anna Lucia Spear King, doutora em saúde mental do Delete,
núcleo especializado em Detox Digital, na
UFRJ.
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trabalho
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Os pesquisadores do Instituto
Delete diagnosticaram diversos transtornos relacionados, além
da nomofobia em si, que é o medo de ficar sem o celular. Existe
o “Efeito Google”, que acontece quando o cérebro humano começa a segurar
menos informações porque sabe que vai obter respostas com poucos
cliques. Outro transtorno é o de “Invisibilidade Social”, que ocorre
quando a pessoa negligencia o que está em sua volta por estar concentrada na
tela do dispositivo.
QUAIS OS NOVOS DIAGNÓSTICOS CLÍNICOS? INDIQUE SUA DEPENDÊNCIA
Tem ainda a
“Síndrome do Toque Fantasma”, que é quando o cérebro faz com que você pense que
o celular está vibrando no bolso, quando não está. O Instituto
Delete também mapeou a “Depressão do Facebook”, causada pela
comunicação na rede social.
“As pessoas
vão para as redes sociais quando têm depressão pra se
sentirem menos deprimidas, se sentirem participando, inseridas em algum
contexto ou não se sentirem só. Mas, ao menos tempo, elas podem
se sentir mais deprimidas se acreditarem em tudo o que é postado porque nas
redes sociais, as pessoas só postam o melhor”, explica a
pesquisadora do Delete.
SOMOS MAL-EDUCADOS DIGITALMENTE?
“As pessoas que têm
esse uso excessivo diário, na verdade, são mal-educadas digitalmente, não sabem
usar a tecnologia no dia a dia dando limites. Elas usam no teatro, no
cinema, elas usam em companhia de outras pessoas, elas usam até em velório para
tirar selfie com o morto, ao fundo”, relata Spear. As cenas, por mais
exageradas que possam parecer, são reais e cada vez mais comuns. A
balconista Liana Araújo, por exemplo, confessa que não larga o aparelho:
Não tem como ficar
sem, já é um vício. Às vezes, a gente se comunica até em casa. Por
exemplo: estou no quarto; minha irmã, na cozinha. Ao
invés de falar, mando mensagem.
A irmã, Lívia
Maria, de 14 anos, confirma a história. "Vamos supor que ela quer um
suco, um pão. Aí ela manda a mensagem: ‘Lívia, faz isso pra mim’. Aí
eu vou lá e faço”.
DEPRESSÃO E ANSIEDADE SÃO AGRAVADAS COM A DEPENDÊNCIA DIGITAL; SONO É
OUTRO TRANSTORNO
Quando o uso do celular se
torna desequilibrado e começa a afetar efetivamente áreas do
cotidiano, é possível que a dependência esteja evoluindo. A psiquiatra
Tatiana Pinho, do ambulatório de Psiquiatria Geral do Hospital
Universitário Walter Cantídio explica que o vício patológico se manifesta “quando
existe um descontrole nesse uso”.
Esse uso acaba
interferindo em diversas esferas. “O tempo vai passando e a
pessoa perde a percepção disso e deixa de fazer coisas que poderiam ser
importantes como estudo, trabalho, contato com os amigos, com a família”,
afirma Tatiana. E, geralmente, começam a
surgir consequências práticas. “Fim de relacionamento, problemas com
filhos, perda de emprego, problema em relação a estudo, a dificuldade de
concentração em torno do celular”, esclarece.
A psicóloga
Tamara Maia, que atende pacientes na rede particular de Fortaleza, explica
que o “vício na internet ou nas tecnologias de forma geral é
comparado a outros tipos de vício, por exemplo, o vício de compulsividade alimentar ou em drogas”. Ela explica
que “é algo que é prazeroso naquele momento mas que, realmente, cria
uma relação de dependência e nenhuma relação de dependência é positiva”,
afirma.
A estagiária de
pedagogia Artemmisia Oliveira conta que já sofreu muitos
prejuízos na rotina em razão do uso excessivo de celular. Por causa do filho
pequeno, evitava pegar o aparelho de dia. Mas
à noite, abusava.
Ficava no celular até duas e
meia da madrugada, três, assistindo filme, respondendo às
pessoas,
olhando Instagram, Facebook, e isso atrapalhava muito
a minha rotina, meu sono
E mesmo depois de
já ter desligado o celular pra dormir, Artemmisia voltava
a checar a tela. “Se eu fosse pro banheiro, na volta, eu tinha
que dar aquela conferida, pra ver se não tinha mensagem, alguma coisa",
conta. “No outro dia, estava esgotada”.
A insônia é uma das
consequências possíveis geradas pelo uso abusivo do celular. Mas há
outras. A psicóloga do Delete, Anna
Lucia Spears, explica que a dependência é patológica quando está
associada a algum transtorno mental, como ansiedade, depressão, compulsão,
transtorno do pânico que potencializam o uso das telas.
“Muita gente passa
a viver a realidade da internet, então, passa o dia todo com a necessidade de
checar, tirar fotos, conferir curtidas. A pessoa passa a viver muito presa
em torno disso, o que pode acarretar ou agravar quadros já existentes
de depressão e de ansiedade”, explica a psicóloga Tatiana Pinho, do
HUWC.
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