INTRODUÇÃO
Hodiernamente
o jornalismo tem sido um mecanismo de divulgação recorrente de notícias
desastrosas, impactantes do ponto de vista negativo, por vezes grotescas,
destinado a um público ávido por manchetes sensacionalistas, que expõem a
desgraça humana, mostram o que o indivíduo tem de pior, gerando nos
expectadores uma sensação de impotência, desânimo e desesperança, mesmo o
público “fiel” desse braço do jornalismo, é influenciado negativamente por
essas reportagens que enfocam, em demasia, fatos cruéis e torpes.
Não
se pode, obviamente, ocultar os fatos e deixar de dar a informação, afinal,
isso é imprescindível na atividade do profissional do Jornalismo, mas o que se quer
abordar com esse trabalho e até que ponto se informa ou deforma o
acontecimento? Quais os objetivos reais de se massificar uma matéria que deixa
claro a crueldade humana? E por que não, ao invés de se enveredar por esse tipo
de abordagem, não se difunde exaustivamente notícias positivas, que demonstrem
o melhor da raça humana?
Este é o objetivo desse trabalho, mostrar vertentes
de um outro tipo de jornalismo, mais humanizado, priorizando notícias
verdadeiramente reais, mas de impacto positivo no espectador, acreditando na
máxima que preceitua “o que se foca, expande”.
O papel do jornalismo vai muito além de só
informar, de contar como as coisas aconteceram, na verdade, tudo inicia muito
antes, começa da escolha da pauta do que e principalmente de como será
divulgado. No livro “O que é Jornalismo” de Cláudio Rossi, ressalta que “Há, portanto, um cone de sombra sobre toda
uma área de atividade, diretamente ligada ao interesse da comunidade, que
raramente ganha espaço na pauta, e por extensão, no próprio jornal, revista ou
TV.”
É crucial que as notícias dentro de uma comunidade,
sejam de cunho educacional, cultural, econômico, artístico ou social também
venham a ser objeto de matérias, pois enfocam iniciativas sociais louváveis e
que representam o que faz a diferença na vida daquelas pessoas, coisas bacanas
de se ver e de se contar. Por que isso não é notícia? Claro que é!
Por outro lado, de que adianta dizermos e expormos
todos os problemas da política, da corrupção, da operação lavajato, se não
apontarmos soluções? Se não mostrarmos que antes sempre houve desvio de verba pública
e agora, pela existência de uma sociedade muito mais exigente, tudo se tornou
questionável.
Temos que mostrar que diante da globalização e do
acesso à informação, os cidadãos passaram a ser mais participativos e opinarem
mais. Se não fizermos uma notícia que dê perspectivas às pessoas, de que vale
noticiar? Ver o circo pegar fogo?Já tem gente demais fazendo isso. Devemos sair
da sombra, citada por Rossi, para exibir a informação politicamente correta e
mais importante do que isso, apontando saídas e soluções, porque senão o
jornalismo se torna um divulgador de misérias e um aniquilidor da esperança
humana.
Acho que a hora é de escolher melhor as notícias
que serão massificadas. Quantas pessoas estão engajadas no Brasil e no mundo
inteiro tentando, e muitas vezes conseguindo, buscar soluções viáveis,
sustentáveis. Vamos atrás dessas pessoas e dessas ações. Foquemos com lentes de
aumento nos acontecimentos que nutram na sociedade a sensação de quem planta o
bem colhe o bem, que o crime não compensa, de que nem tudo está perdido.
Inúmeras ações de voluntariado estão por aí, a espera de serem vistas, de serem
copiadas, de virarem manchetes, mas teimamos em achar que só notícias infelizes
terão “ibope”.
Desafio a todos que forem escrever ou mesmo falar
em algum canal de comunicação, desenvolver o raciocínio sobre a perspectiva de
mostrar o que deu certo, qual lição, ou quem fez a coisa certa nessa situação,
sem olvidar de narrar os fatos reais.
Neste sentido, cito o jornalista Ricardo Corrêa e
editor-adjunto de política do Jornal Hoje em Dia de Belo Horizonte: “Fazer jornalismo é publicar aquilo que
alguém não quer que seja publicado.” Não quero aqui contrapor a tese expressa
na oração que tão bem define a chave de um jornalismo atuante e combativo. Nem
defender a adoção de um jornalismo chapa branca, que seria ainda mais
pernicioso do que o “jornalismo da depressão” que é vastamente praticado hoje
no país. Mas é diferente propor um jornalismo que valorize as boas práticas na
sociedade, aquelas que são capazes de transformá-la, indo além da pintura de um
cenário de erro absoluto. Tenho realmente
hoje a tendência a achar que e preciso alterar a lógica presente no jornalismo
contemporâneo brasileiro, que é algo que me preocupa, sobretudo nas editorias
de Política do jornalismo impresso, sob a pena de contribuir com a visão
corrente de que tudo está caminhando só para pior, que não há mesmo saída e que
estamos todos condenados a viver em uma sociedade injusta e cada vez mais
distante das que queremos. Volto à frase que abre o texto para lembrar que se
“fazer jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer se seja publicado”,
também o é apresentar as boas práticas, os bons exemplos, que mudam a sociedade
e que, certamente, os que defendem a inércia social não querem que sejam
veiculados.” (Fonte:
http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/_ed739_um_jornalismo_positivo_que_mude_a_sociedade/)
Comungo do pensamento do jornalista retro citado,
sobretudo quando ele reforça a necessidade de apresentar as boas práticas e os
bons exemplos, pois através desta comunicação, repassaremos a ideia de que a
sociedade pode e deve seguir um caminho pró ativo e de resolutividade dos seus
impasses e problemas e não apenas ser mero expectador das agruras dos
acontecimentos.
Num contexto mundial em que a velocidade da
comunicação é instantânea, maior é a responsabilidade dos tratadores da
notícia, do que repassam, pois a consequência do que é informado é imediata.
Por exemplo, na veiculação do fato do estupro coletivo, foi imensamente
divulgado o ato em si, a quantidade de homens a participar do crime, a
fragilidade da vítima. O que eu sugiro é que seja focada a atitude de mulheres
que se mobilizaram para realizar a denúncia, que esta denúncia culminou com a
instauração de inquérito e prisão dos envolvidos, que um movimento de mulheres
prestou solidariedade à vítima, fazendo manifestações públicas, entre outras
perspectivas, e ressalte-se, não deixando de informar o que aconteceu, mas sob
uma ótica de mostrar o que se pode fazer para resolver a situação e o que houve
de positivo a partir do fato lamentável.
Também neste sentido é a posição da portuguesa Catarina
Rebelo de Sousa, jornalista de vários meios de comunicação social portugueses:
24 Horas, TV 7 Dias, TV Dois, TV TOP, Conheça Portugal - Turismo e Negócios e estudante da pós-graduação em jornalismo
ISCTE/MediaCapital: “Ora, as
nossas vidas já são tão duras e tristes que é urgente o jornalismo levar a
alegria, o bem-estar às pessoas. Elas exigem-no. Precisam disso para não
sufocar. Só assim as teremos como aliadas. Os nossos telejornais vão ao
encontro da concorrência do que eles fizeram ou mostraram que nós não mostramos
e, por isso, deixamos de fazer. Como consequência perdemos a audiência, o
share, os números do dia. Não! Nada disto! O jornalismo está a perder a sua
essência. Está a materializar-se em números que se traduzem em pessoas. E isto
é errado. Quando pensamos no jornalismo pensamos em pessoas, nas suas vidas,
nas suas histórias. Isso é Jornalismo. As pessoas e o mundo têm muitas
histórias por e para contar. Coisas que nos fazem sentir felizes e realizados.
As pessoas estão a pedir isto agora e mais que nunca. E nós dar-lhe-emos isso
mesmo. Trabalhamos para as pessoas como seres humanos e indivíduos únicos. Não
trabalhamos nem para máquinas nem para autómatos programados. Estamos onde as
pessoas estão. Esqueçam os números. Foquem-se no essencial. O resto virá por
acréscimo, acreditem.”
A lucidez e ao mesmo tempo otimismo da
profissional impressionam, ela chama a atenção para o fato de que devemos
esquecer os números e lembrarmos do essencial, das boas histórias, do que é
genuinamente humano e não desumano.
Outra ponderação que se pode fazer é acerca de
existir um acordo tácito na imprensa sobre não noticiar os suicídios ocorridos.
Percebe-se que não se explora o tema, que é minimizado. Não é à toa que isso
ocorre. Essa prática vem corroborar a tese de que ao publicarmos, sobretudo
dependendo da forma de abordagem, há um contágio social, uma replicação do
fato.
A jornalista Carolina Pompeu Grando, numa análise
muito lúcida desse comportamento, aduz: “Existe
uma convenção profissional extra-oficial, uma espécie de acordo entre
cavalheiros, que determina: suicídios não serão noticiados pela grande
imprensa. Ninguém sabe exatamente quando foi que este acordo foi selado, nem
precisamente por que. O fato é que ele existe, mas aos poucos e discretamente
tem sido descumprido: notícias sobre suicídios são publicadas, sim. Às vezes de
modo sensacionalista, outras de modo superficial, e poucas de maneira
aprofundada. Ainda assim, linhas editoriais e profissionais de imprensa
sustentam que nas páginas de seus jornais não há espaço para suicídios. Por
quê?
Ao meu ver, essa omissão é
justamente para não incentivar novos casos, mas também acho que essa não é
solução, afinal o número de homicídios tem aumentado, além de ocultar situações
reais que o público deveria saber. Reputo que a forma de se dar a notícia é que
fará toda a diferença, sobretudo a sociedade poderia questionar por que os
casos de suicídio tem aumentado. Especialistas poderiam dar suas opiniões e se
traria à baila um assunto muito relevante e de ordem pública, pois se refere à
saúde e sanidade humanos
O QUE
PODERÍAMOS ENTÃO NOTICIAR?
Sugiro que fosse feito permanentemente, em todos os
jornais, TVs e revistas, uma pauta dedicada a ações de voluntariado, para que
além de dar visibilidade a estas ações, inspirasse outras pessoas a prestar
algum serviço social. Poderiam ser citados casos práticos de pessoas que foram
beneficiadas pelo auxílio prestado pelos voluntários e como suas vidas foram
impactadas.
Por que não replicamos exaustivamente o caso dos
pais que adotaram 6 crianças, filhos de uma amiga do casal que morreu de
câncer? O caso do lixeiro que encontrou um grande valor em dinheiro e devolveu.
Citar a freira que mantém uma casa para crianças com câncer e que mobiliza uma
cidade inteira para ajudar. As ações de voluntariado que auxiliam crianças sem
lar, moradores de rua, animais abandonados.
Outro tópico a ser abordado na comunicação
positiva, são as ações sustentáveis realizadas por cidadãos individualmente,
bem como por empresas, instituições e governos, sobretudo focados na
preservação do meio-ambiente, divulgando soluções da melhor utilização dos
recursos naturais.
Poderia ser falado também de como o esporte
rotineiramente transformou e transforma a vida das pessoas, gerando
oportunidades de mudanças. Por que não ousar e imaginar a possibilidade de ao
final de cada matéria publicada, fosse feita uma abordagem de solução, dos
efeitos positivos do que houve, de quais ações podem ser implementadas a partir
daquele acontecimento, de abrir espaço para os espectadores, no caso do
jornalismo de web, para sugerir boas práticas acerca daquele tema.
Comparo as notícias dados pela imprensa às notícias
particulares que nos são passadas. Muitas vezes o que nos é dito de forma
individual vai depender de quem diz, como diz e quando diz. É como quando
assistimos aula com um professor excepcional, que nos motiva, que ilustra suas
aulas, que dá exemplos práticos, vivências suas, que escuta as perguntas e
valida as respostas, que tornam atraentes suas aulas pois tem amor pelo que
faz, que envolve toda a sala com sua didática e postura. Imagine que outro
professor dá a mesma cadeira, reforço, a mesma disciplina, mas com outra
“vibe”, entra na sala desmotivado, taciturno, cambaleante no assunto, detesta
ser interrompido, não gosta de responder perguntas e é sarcástico com as
dúvidas dos alunos, a ponto destes se envergonharem de perguntarem e a aula se
tornar um monólogo. Quem já não passou por esses dois professores?? Na verdade,
eu estava escrevendo e lembrando deles...Acho que todos já experimentamos essas
situações.
Com a notícia não é diferente, podemos fazer dela
um verdadeiro pandemônio ou trazê-la para transformar realidades. Isso se
falarmos das notícias pesadas, mas quando se tratam de notícias verdadeiramente
inspiradoras, podemos fazer muito mais, podemos torná-las comuns, inseri-las no
contexto social, massificar as ações do José e da Maria, que adotaram 6
crianças que perderam a mãe na grande notícia do ano.
Neste sentido, já existem iniciativas concretas,
como por exemplo, o Movimento Independente pelas
Notícias Inspiradoras, que tem uma página no Facebook, tendo como objetivo
divulgar notícias positivas e que mostrem um pouco do BOM que se faz no País. Uma
rede social que vai permitir ajudar os seus seguidores! Assim como o blog da
jornalista que citei anteriormente, Catarina Rebelo de Sousa, intitulado
“Jornalismo Positivo”. O que deixa claro que se trata de uma vertente que está
se concretizando no mundo da comunicação.
O papel do jornalista tem que fazer sentido, e um
sentido verdadeiramente social. No livro Comunicação – Dos Fundamentos à
Internet, os autores Francisco Antonio Doria e Pedro Doria, dissertam que “Dizer é fazer visível o que ficava na
sombra. Iluminar. Iluminar com a fala.” Num outro trecho, acrescentam: “Aqui surge, inteiro o problema da
comunicação. Nasce no problema do sentido das coisas e do sentido das palavras.
Mas nele não se isola e se limita. Vai além. Comunicação envolve quem fala e
quem escuta. Diz do sentido, das coisas, dos textos urdidos em palavras, e do
ambiente – contexto – no qual desejam alojar-se os sentidos produzidos. Onde
nasce o sentido: onde está quem fala, escreve, desenha, pinta, faz imagem e
palavra. Onde se firma o sentido: no contexto, na cultura.”
Os autores foram muito felizes quando usaram a
expressão “iluminar”, pois essa função da palavra, do comentário, da
comunicação é essencial para formarmos novos valores nessa sociedade tão
massacrada por horrores, violência e apologia à desgraça humana.
CONCLUSÃO
O jornalismo tem papel preponderante no alavancar
de mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Noticiar fatos e
acontecimentos através de uma comunicação resolutiva, positiva, no qual se
apontam caminhos, tem sido uma solução viável para o contexto global. Não ser
refém de uma cultura de massa, “escolhendo” matérias pré-definidas, não pode
guiar a escolha das pautas de redação, há a necessidade de haver independência
do profissional, liberdade para que ele, em contato com os fatos
verdadeiramente relevantes para a sociedade, sejam levados à opinião pública.
Tratar a notícia sob um viés de sustentabilidade,
gerando na sociedade a esperança de se encontrar soluções para todos os
impasses, por mais difíceis que sejam, focar nas ações positivas, que ressaltam
atitudes que conduziram a um bom desempenho individual, social, comunitário,
institucional ou governamental.
Apropriar-se do sentimento de que temos sempre algo
bom para informar ou tirar o bom do que foi ruim, sem em momento algum,
esconder os acontecimentos, ocultar os fatos, que muitas vezes são sim
estarrecedores, mas deixar claro que não são um fim em si mesmos, que a
história não termina aí. Ao adotarmos o conceito da teoria quântica de “onde se
foca, expande”, teremos uma perspectiva jornalística que viabiliza a vida em
sociedade, prestigia as boas ações e auxilia na mudança de valores sociais.