Texto: Jamille Ipiranga
Ilustração: Marcilene Damasceno
Ser a última num mundo que idolatra os primeiros não é fácil. Sentia-me assim na escola, na família, nas amizades. "Os outros" pareciam se destacar mais. No ambiente escolar não pertencia a turmas, guetos. Sentia-me atrás, sozinha.
Por outro lado, conseguia me sair bem em algumas situações, mas não as reconhecia. A desvalorização sempre esteve presente. O que isso teve de bom na minha vida? Muita coisa. Sinto e entendo a dor dos "últimos".
Sei o peso de se sentir excluída, ou por ser diferente ou por não ter o desempenho que esperam. Alcanço o sentimento de não pertencimento daqueles que não estão nos padrões exigidos. Por vezes, escolho ficar por derradeiro.
Quantas vezes os que não tiveram oportunidade são julgados? As pessoas em situação de rua, os viciados ou mesmo os mais atrasados da sala? Os que não conseguiram alcançar algumas metas, os que não chegaram nos primeiros lugares das competições, as pessoas LGBTKIA+.
Há uma invalidação social caso você não siga padrões ou tenha a "alta performance" alardeada nas teorias de ser "bem-sucedido".
É importante incluir quem está só, quem não é visto, compreendido ou ouvido. Acredito que terão um lugar especial em algum tempo, nalgum lugar e no coração de Deus.
Não é simples discordar da lógica social em que casa, carro, turmas e bens materiais são as balanças de pesagem do sucesso. Por outro lado, a simplicidade é mais acolhedora, mais sustentável e mais sã.
Olhemos pelos que estão à margem e aprendamos com eles. Se olharmos bem, quem está mais atrás como o peixinho da ilustração, a visão é mais alargada, o horizonte é mais amplo. Lembremos que "muitos primeiros serão últimos; e muitos últimos serão os primeiros".
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