quinta-feira, 30 de março de 2023

De mulher para mulher

Texto: Jamille Ipiranga

Ilustração: Marcilene Damasceno

No meu caminho do trabalho para casa, procuro observar as pessoas, especialmente as mulheres. Nós somos múltiplas.

Passos apressados e firmes. Horas, vagarosas.

Cheias de sacolas de compras. Roupas, sandálias, mercantis. Às vezes, sacolas de esmolas.

Somos pretas, pardas, asiáticas, loiras, encaracoladas, crespas, carecas. Predominamos num padrão de cabelos alisados, apesar de sermos mais belas pela nossa diversidade.

Cada mulher, uma história, uma luta. Muitas lutam para sobreviver. Outras lutam por uma luta. LGBTKIA+, assédio sexual, moral, patrimonial, importunação sexual, PCD’s, raças, minorias.

Há lutas pela defesa dos direitos dos filhos. Enfermos, autistas, com síndrome de down ... Filhos sem comida, sem escola, sem saúde, sem lar, sem pátria. Muitas são sós sem estarem sós.

Continuo minha caminhada. Vejo agora uma mulher de roupa branca. Morena, cabelos pretos, estatura mediana, meia idade. Quais as lutas dela? Suas marcas de expressão marcam o meu olhar. Nos entr­­eolhamos. Seguimos.

Cada qual com a sua labuta. E o que a minha vida tem a ver com a sua lida? Qual a nossa intercessão?

Nosso ser mulher nos une num mundo que nos subordina, nos paga menos, nos inferioriza, nos exclui, nos assedia, nos amedronta, nos violenta e nos mata.

Precisamos lembrar de quem somos e do que fazem conosco só porque somos do gênero feminino. Comecemos por nos olhar, nos enxergar, nos compreender. É fundamental atuar para que nossas lutas incluam a defesa da vida em abundância para todas as mulheres.

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