Texto: Jamille Ipiranga
Ilustração: Marcilene Damasceno
No meu caminho do trabalho para casa, procuro observar as
pessoas, especialmente as mulheres. Nós somos múltiplas.
Passos apressados e firmes. Horas, vagarosas.
Cheias de sacolas de compras. Roupas, sandálias, mercantis.
Às vezes, sacolas de esmolas.
Somos pretas, pardas, asiáticas, loiras, encaracoladas,
crespas, carecas. Predominamos num padrão de cabelos alisados, apesar de sermos
mais belas pela nossa diversidade.
Cada mulher, uma história, uma luta. Muitas lutam para
sobreviver. Outras lutam por uma luta. LGBTKIA+, assédio sexual, moral,
patrimonial, importunação sexual, PCD’s, raças, minorias.
Há lutas pela defesa dos direitos dos filhos. Enfermos,
autistas, com síndrome de down ... Filhos sem comida, sem escola, sem saúde,
sem lar, sem pátria. Muitas são sós sem estarem sós.
Continuo minha caminhada. Vejo agora uma mulher de roupa
branca. Morena, cabelos pretos, estatura mediana, meia idade. Quais as lutas
dela? Suas marcas de expressão marcam o meu olhar. Nos entreolhamos.
Seguimos.
Cada qual com a sua labuta. E o que a minha vida tem a ver
com a sua lida? Qual a nossa intercessão?
Nosso ser mulher nos une num mundo que nos subordina, nos
paga menos, nos inferioriza, nos exclui, nos assedia, nos amedronta, nos
violenta e nos mata.
Precisamos lembrar de quem somos
e do que fazem conosco só porque somos do gênero feminino. Comecemos por nos
olhar, nos enxergar, nos compreender. É fundamental atuar para que nossas lutas incluam a
defesa da vida em abundância para todas as mulheres.
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