Óculos sujos ou vista embaçada
Texto: Jamille Ipiranga
Ilustração: Marcilene Damasceno
Sempre tenho a sensação que as lentes dos meus óculos estão manchadas. E olho para o par alheio e acho que está irritantemente limpo.
Já entrou na lista das obrigações matinais limpar os benditos óculos, mas parece que mesmo eu me disciplinando, nada muda. Continuo com vista turva.
Lembrei do ditado em que o jardim do vizinho é sempre mais verde. Dá certinho: os óculos alheios estão sempre mais cristalinos. Como sempre, a vida imita a arte e a metáfora imita a vida.
O meu par de óculos e a minha vida são reais e tem horas que estão bem e outras que não vão lá essas coisas. Tudo normal. Da mesma forma, a vida das outras criaturas segue o mesmo curso da balança: horas pra cima, horas pra baixo.
Nem sempre o que eu enxergo é a perspectiva real ou única. Minha visão política, orientação sexual ou religião não são absolutas nem melhores. São só a minha forma de ver, de ser e de crer.
Fácil deduzir então que meus óculos podem estar sujos nalguns momentos, mas noutros vão me dar a melhor visão do mundo. O importante é respeitar todos os pontos de vista, buscando sempre a nitidez do coração e da alma.
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