quinta-feira, 15 de julho de 2021

O Amigo e a piada

Texto: Jamille Ipiranga 
Ilustração: Marcilene Damasceno 

Uma professora adorava contar essa história:
- Quando a Jamille era criança lembro que ela não queria dançar quadrilha com um certo menino da escola e eu perguntei por quê. 
- O menino é muito feio!
- E você é muito bonita, por acaso? E todos riam a valer.

Esse episódio realmente aconteceu. O "tal" do menino era o pior aluno da sala e eu tinha medo dele, mas isso não vem ao caso agora.
O que eu quero refletir com esse fato, contado até hoje, é indagar se vale mesmo a pena reforçar lembranças constrangedoras ou doloridas das pessoas?

Que sentimento é esse que a gente precisa ridicularizar os outros ressaltando as memórias ruins? Inclusive, reforçando erros cometidos no passado e que queremos esquecer e seguir nossas vidas.

Por vezes, fazemos isso com quem mais amamos para termos a satisfação de tirar boas risadas das pessoas, mas não de todas...

Os personagens das histórias podem ser filhos, pais, parentes, companheiros, amigos ou alunos, que ficam entristecidos. E o que é pior, pode acionar gatilhos dolorosos de não merecimento, tristeza ou abandono. 

Encontros familiares, escolares ou bate papo com os amigos são ambientes comuns dessas "recordações" serem trazidas a tona.

Quais histórias contam sobre nós que causam constrangimento ou tristeza? Quais nós contamos sobre eles?

Cuidemos das lembranças boas. Validemos as ações construtivas. Alavanquemos risadas que todos sorriam e façamos das nossas memórias, situações que tragam contentamento e não desconforto.

Tornar os encontros momentos de encantamento e engrandecimento coletivo é um caminho muito mais edificante.
Percamos a piada e mantenhamos os amigos.

11 comentários:

  1. Que linda verdade Jamille!
    Devemos brincar juntos, "com o outro" e não "do outro". Brincar saudavelmente onde todos possam sorrir e se alegrar... Isso é o Céu. Agora, quando apenas alguns sorriem em função de um 'defeito' ou característica marcante de outra pessoa, isso sim é o Inferno. No filme "Professor aloprado" este tema é muito bem abordado, vale a pena ver. Parabéns por tão singelo e reflexivo texto. 🙌🏼

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigado pelo comentário Paulo. Muito bom saber que isso repercute na vida de outras pessoas também.

    ResponderExcluir
  3. Excelente o texto! Parabéns, Jamille! Já tive o desprazer de ser eu a pessoa que tentou fazer graça e que colocava o outro em situação constrangedora - no famigerado modelo "eu perco o amigo mas não perco a piada". E me envergonho disso imensamente. A minha sorte é que a pessoa me amava mais e foi generosa comigo. Mas nunca esquecerei o olhar... Ela é uma das minhas pessoas preferidas no mundo e me perduou pela deselegância e falta de senso. Sortuda eu

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Claudinha, o mais importante você já fez. Criou consciência e descontinuou o comportamento. Agora, é seguir adiante sem culpa e reforçando boas memórias. Muito obrigada pela sua contribuição. 😘🌹

      Excluir
  4. Muito boa essa abordagem do seu texto, de fácil compreensão, porém, um pouquinho difícil sua aplicação. Tirar esses vícios requer: compreensão, esforço e humanidade. Devemos nos esforçar pra prática ser constante e obteremos valiosos resultados. A amizade é muito valiosa, não podemos perdê-las por causa de bobagens. Obg por compartilhar conosco…👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻😘

    ResponderExcluir
  5. Nesse tempo de polarização, muitas amizades valiosas estão se esvaindo. É importante perceber que o valor da amizade deve estar acima de comentários dolorosos ou opiniões antagônicas. Agradeço sua mensagem tão oportuna!

    ResponderExcluir
  6. excelente a sua posição sobre o assunto. conheço uma pessoa que faz piada com os próprios familiares para ser "o engraçado" perante os outros e o mais intrigante é que a maioria dos que ouvi, rir e contribui com a piada sem perceber o quanto deixa a pessoa a qual se dirige a piada machucada e constrangida.

    ResponderExcluir
  7. Muitas histórias mal contadas por aí. Comecemos por nós a mudar essa realidade. Obrigada pela contribuição

    ResponderExcluir
  8. Muito bom o tema pois precisamos ficar atentos para não tornarmos numa pena perpétua algo do passado. Com o texto refresca nosso compromisso com uma evolução. Não é porque algo é sem querer que deixa de ser falta ou não dói.

    ResponderExcluir
  9. Há situações do passado que queríamos simplesmente esquecer de tão sofridas. Fico feliz que você compartilhe esse sentimento de "manter o compromisso com uma evolução". Muito obrigada pela sua análise.

    ResponderExcluir
  10. Verdade. Pior é que só lembram de coisa desagradável...

    ResponderExcluir