terça-feira, 24 de maio de 2022

Música desde deles


Música desde deles

Texto: Jamille Ipiranga

Ilustração: Marcilene Damasceno

LP's, encartes e radiola rodearam a minha infância. Os irmãos mais velhos já compravam seus próprios discos. Sorte minha. Elis, Alceu e Caetano dariam o tom na Rua Frei Teobaldo, 208, no Carlito Pamplona. Já tive alguns endereços, mas esse ficou encantado. Acho que a culpa é da música. 

Além da MPB, o cardápio incluía rock dos Titãs e da Blitz e o samba da Alcione. Todos eles comporiam um grande acervo que só depois eu entenderia que muito me influenciaria, até os dias de "Alexa". Balão Mágico e os Três Patinhos confirmavam que criança também tinha suas preferências. 

Do papai, eu herdei o gosto pelo baião. Sou fã obstinada do Luiz Gonzaga. Aliás, sempre fui. Vez em quando, dançava na sala com meu mentor do ritmo nordestino mais famoso. "Essa menina vai ser forrozeira", profetizada Pedro pai.

Clara Nunes era idolatrada pela mamãe. "Morreu tão jovem". E cantarolava "Feira de Mangaio". Farinha, rapadura e graviola faziam parte da nossa despensa. Mamãe me ensinou que não tinha época para aprender. Sentava de banda na sua cama, ajeitava o violão e dedilhava letras de seresta. 

Voltando para o forró, tivemos momentos quase de despedida. Chegou o tempo em que o amor desafinou. Os discos de Gonzaga saíram de perto de Clara. No dia marcado para papai pegar seu quinhão, eu sabia que a coletânea do Rei do Baião entraria na mala. 

Com meus 12 anos recém completados, senti-me no direito de ficar com o meu LP preferido. Garanti que "Roendo Unha" tocasse por vários anos na nossa radiola e que "Vinvin" cantasse atrás da serra quando o sol tava pra se esconder. No caso dos Ipiranga, não gostar de música nunca foi uma opção.

E dessa forma, entre músicas, influências, sentimentos, despedidas, dores e sons, adquiri um gosto musical peculiar, eclético e genuíno. Dou viva ao baião, ao samba, ao rock e à MPB. Gratidão meus irmãos, obrigada pai, obrigada mãe.

Porque sempre vai existir "um sanfoneiro no canto da rua fazendo floreio para gente dançar" e relembrar os momentos que os sons vão eternizar.



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