Texto: Jamille Ipiranga
Ilustração: Marcilene Damasceno
Engoli água, pernas batiam em mim, pensei que eu ia me afogar. Vi os bombeiros. Sair carregada não era uma opção. Ser desclassificada não estava na lista das metas. Foi aí que eu me lembrei do meu nado de emergência, "nado peito". Mudei para ele. Foquei na respiração. A falta de fôlego permanecia, mas foi aliviada.
Consegui fazer uma volta. Já se foram 250m em mar aberto. Tinha que dobrar a meta. Na rotina normal, 1000m era comum realizar, mas numa competição, o mar muda de figura e a emoção também.
A tábua de salvação era o nado peito. Sempre me acalmou. Voltava a respirar bem. Dava-me segurança. Tornava o impossível, possível. Num mar cheio de desafios físicos e emocionais, receio de estar no percurso errado. Eu respirava e nadava, nadava e respirava. Meu maior trunfo era a persistência. Cheguei na chegada.
A vida se assemelha a esse momento. Tem horas de angústia, de dor e desespero. Para onde seguir? O que fazer? Para quem contar, ou melhor, com quem contar? Sigo ou levanto a mão desistindo? E se a cabeça não acompanhar a vontade e o corpo falhar? A respiração faltar?
Nade peito. Chame as pessoas em que você confia. Chore e esvazie a mágoa. Nade peito. Durma e acorde melhor. Procure uma terapia. Reze e confie. Nade peito e tenha sempre uma saída de emergência e uma tábua de salvação. Serão muito úteis nos dias de mar agitado e de vida revolta. Vão te ajudar a alcançar a chegada.